Ora, o argumento aqui é falho. O
cristianismo também já foi uma espécie de “sociedade secreta”. Nos primórdios
do cristianismo, conforme consta no livro de Atos, os cristãos eram
perseguidos, presos, mortos, martirizados. Saulo de Tarso, que depois de sua
conversão ao cristianismo passou a usar o nome de Paulo, “respirava ameaças de
morte contra os discípulos do Senhor” (At 9:1).
É de se imaginar, portanto, os
cuidados que os cristãos deveriam ter para não serem vítimas da perseguição por
descuido de sua própria exposição. E a perseguição aos cristãos recrudesce
depois, quando ocorre uma campanha promovida pelo império
romano, pelo menos a partir do ano 64, data do governo de Nero. Mas essa foi
uma perseguição local, não organizada, como, praticamente, todas as que se
seguiram, até aproximadamente o ano de 250 d. C., quando se
tornou sistemática: “A perseguição organizada e universal em todo o Império
ocorreu somente depois do ano 250 d. C., com os imperadores Décio (249 – 251) E
Diocleciano (284 – 305), as últimas e mais ferozes, quando os romanos
consideravam o cristianismo uma religião perigosa para o Estado e para a
estabilidade do governo” (REINKE, 2019, p. 328).
Talvez seja este o sentido da
advertência de Jesus Cristo aos seus discípulos: Mateus 10.21: Um irmão entregará à morte seu irmão, e o pai ao filho, e os filhos se rebelarão contra seus pais e lhes causarão a morte. 22 E, por causa do meu Nome, sereis odiados de todos. Contudo, aquele que permanecer firme até o fim será salvo. 23 Quando, porém, vos perseguirem num lugar, fugi para outro; pois com toda a certeza vos asseguro que não tereis passado por todas as cidades de Israel antes que venha o Filho do homem.
Benjamin
Scott diz que durante as perseguições aos cristãos em Roma, estes se refugiavam
em catacumbas, galerias subterrâneas, até aproximadamente o ano de 311 (SCOTT,
2019, p. 66). Isso demonstra que os primeiros cristãos eram cautelosos, o que
os levou a criar uma rede de relações e de organização similares a uma “sociedade
secreta”.
Pois é, da
mesma forma, os cristãos primitivos também utilizavam-se de símbolos para se
comunicarem sem incorrer no risco de que sua mensagem fosse parar em “mãos
erradas”. Atualmente, por exemplo, ainda é comum alguns cristãos utilizarem o “peixe”
como símbolo cristão (menos evidente do que a cruz, por exemplo). Mas, se
perguntarmos a todos os cristãos, será que sabem o porquê da associação de
Jesus com o peixe?
Provavelmente,
muitos dirão que é por conta das diversas relações de Jesus com o peixe,
descritas no Novo Testamento. Jesus se acercou de pescadores, como Pedro. Chamou
a este apóstolo de “pescador de homens”. Jesus realizou um milagre de
multiplicação de peixes, comeu peixe em várias ocasiões, incluindo depois de ressuscitado
(Jo 21). No entanto, trata-se de um acróstico, ou seja, uma palavra escrita a
partir de iniciais de outras que indicam novo sentido. De acordo com LUND e
NELSON (2001, p. 102), “os cristãos da primeira Igreja, como evidenciam as
catacumbas da cidade de Roma, empregavam comumente acrósticos nos epitáfios. Um
dos símbolos favoritos e secretos de sua fé imutável sob o fogo da perserguição
era o desenho de um peixe. A palavra grega equivalente a peixe era ichthus. O
alfabeto grego consta de caracteres que nós representamos mediante duas letras.
Desta maneira th e ch são letras simples no alfabeto grego. Ao recordar este
fato, o peixe simbólico era lido da seguinte maneira: I = Iesous (Jesus), Ch = Christos
(Cristo), Th = Theou (de Deus), U = Uios (Filho), S = Soter (Salvador)”.
Mas é
apenas um símbolo usado pelos cristãos...
Na verdade
era um dos diversos símbolos usados pelos cristãos. Por exemplo, a âncora que
disfarçava a cruz; a pomba com ramo no bico; túmulo vazio entre tantos outros
símbolos.
Então,
quer dizer que o cristão deve se filiar à maçonaria?
Não é este
a sugestão deste texto. Ocorre que para defender ou não determinada posição
deve-se melhorar os argumentos. Acontece que qualquer coisa que rivalize com a
devoção a Deus sempre foi condenada pela Escritura. Sejam deuses da
Antiguidade, seja a riqueza, a opulência, a luxúria ou a filiação a alguma
sociedade que seja contrária ao que diz a Palavra de Deus.
Nesse
sentido, fazer parte de uma torcida de futebol é tão nociva quanto pertencer a
qualquer sociedade “secreta”, se ambas estão desviando sua atenção para as
coisas espirituais.
Carlos Carvalho Cavalheiro
18.04.2020
Importante reflexão, professor!
ResponderExcluirGratidão, amigo.
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