sábado, 18 de abril de 2020

O cristão e a maçonaria



                  "O cristão não deve se filiar à maçonaria porque ela é uma sociedade secreta!"
            Ora, o argumento aqui é falho. O cristianismo também já foi uma espécie de “sociedade secreta”. Nos primórdios do cristianismo, conforme consta no livro de Atos, os cristãos eram perseguidos, presos, mortos, martirizados. Saulo de Tarso, que depois de sua conversão ao cristianismo passou a usar o nome de Paulo, “respirava ameaças de morte contra os discípulos do Senhor” (At 9:1).
            É de se imaginar, portanto, os cuidados que os cristãos deveriam ter para não serem vítimas da perseguição por descuido de sua própria exposição. E a perseguição aos cristãos recrudesce depois, quando ocorre uma campanha promovida pelo império romano, pelo menos a partir do ano 64, data do governo de Nero. Mas essa foi uma perseguição local, não organizada, como, praticamente, todas as que se seguiram, até aproximadamente o ano de 250 d. C., quando se tornou sistemática: “A perseguição organizada e universal em todo o Império ocorreu somente depois do ano 250 d. C., com os imperadores Décio (249 – 251) E Diocleciano (284 – 305), as últimas e mais ferozes, quando os romanos consideravam o cristianismo uma religião perigosa para o Estado e para a estabilidade do governo” (REINKE, 2019, p. 328).
          Talvez seja este o sentido da advertência de Jesus Cristo aos seus discípulos: Mateus 10.21: Um irmão entregará à morte seu irmão, e o pai ao filho, e os filhos se rebelarão contra seus pais e lhes causarão a morte. 22 E, por causa do meu Nome, sereis odiados de todos. Contudo, aquele que permanecer firme até o fim será salvo. 23 Quando, porém, vos perseguirem num lugar, fugi para outro; pois com toda a certeza vos asseguro que não tereis passado por todas as cidades de Israel antes que venha o Filho do homem.
            Benjamin Scott diz que durante as perseguições aos cristãos em Roma, estes se refugiavam em catacumbas, galerias subterrâneas, até aproximadamente o ano de 311 (SCOTT, 2019, p. 66). Isso demonstra que os primeiros cristãos eram cautelosos, o que os levou a criar uma rede de relações e de organização similares a uma “sociedade secreta”.
           
              “Mas os maçons cultuam símbolos!”
            Pois é, da mesma forma, os cristãos primitivos também utilizavam-se de símbolos para se comunicarem sem incorrer no risco de que sua mensagem fosse parar em “mãos erradas”. Atualmente, por exemplo, ainda é comum alguns cristãos utilizarem o “peixe” como símbolo cristão (menos evidente do que a cruz, por exemplo). Mas, se perguntarmos a todos os cristãos, será que sabem o porquê da associação de Jesus com o peixe?
            Provavelmente, muitos dirão que é por conta das diversas relações de Jesus com o peixe, descritas no Novo Testamento. Jesus se acercou de pescadores, como Pedro. Chamou a este apóstolo de “pescador de homens”. Jesus realizou um milagre de multiplicação de peixes, comeu peixe em várias ocasiões, incluindo depois de ressuscitado (Jo 21). No entanto, trata-se de um acróstico, ou seja, uma palavra escrita a partir de iniciais de outras que indicam novo sentido. De acordo com LUND e NELSON (2001, p. 102), “os cristãos da primeira Igreja, como evidenciam as catacumbas da cidade de Roma, empregavam comumente acrósticos nos epitáfios. Um dos símbolos favoritos e secretos de sua fé imutável sob o fogo da perserguição era o desenho de um peixe. A palavra grega equivalente a peixe era ichthus. O alfabeto grego consta de caracteres que nós representamos mediante duas letras. Desta maneira th e ch são letras simples no alfabeto grego. Ao recordar este fato, o peixe simbólico era lido da seguinte maneira: I = Iesous (Jesus), Ch = Christos (Cristo), Th = Theou (de Deus), U = Uios (Filho), S = Soter (Salvador)”.

            Mas é apenas um símbolo usado pelos cristãos...
        Na verdade era um dos diversos símbolos usados pelos cristãos. Por exemplo, a âncora que disfarçava a cruz; a pomba com ramo no bico; túmulo vazio entre tantos outros símbolos.
            Então, quer dizer que o cristão deve se filiar à maçonaria?
          Não é este a sugestão deste texto. Ocorre que para defender ou não determinada posição deve-se melhorar os argumentos. Acontece que qualquer coisa que rivalize com a devoção a Deus sempre foi condenada pela Escritura. Sejam deuses da Antiguidade, seja a riqueza, a opulência, a luxúria ou a filiação a alguma sociedade que seja contrária ao que diz a Palavra de Deus.
            Nesse sentido, fazer parte de uma torcida de futebol é tão nociva quanto pertencer a qualquer sociedade “secreta”, se ambas estão desviando sua atenção para as coisas espirituais.

Carlos Carvalho Cavalheiro
18.04.2020
           


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