domingo, 19 de abril de 2020

Sobre a Teologia da Prosperidade (II)


Certamente, alguns poderão argumentar que a Teologia da Prosperidade está, de fato, de acordo com os ensinamentos bíblicos. Por exemplo, a própria Bíblia diz que Jesus afirmou: “eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância” (Jo. 10.10). Então, como é que fica? Ter vida em abundância não é viver com o que é além do necessário para uma vida digna? Não é viver com riqueza material e financeira?
            A vida em abundância, aqui tratada, é a vida eterna com Jesus. No Evangelho de João, capítulo 5, versículos 39 e 40, Jesus esclarece que os homens de sua época examinavam “as Escrituras, porque vós [eles] cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam; E não quereis vir a mim para terdes vida”.
            A mensagem é espiritual, portanto. Não é um chamamento para o “paraíso” na Terra. Nem mesmo para que se tenha excesso de bens materiais e financeiros, a despeito das condições de vida das outras pessoas. O Reino não é deste mundo! (Jo. 18.36). Ao contrário, o verdadeiro cristão doa o que tem em benefício de outrem. Os cristãos primitivos, por exemplo, vendiam todos os seus bens e repartiam entre si o que tinham e dividiam o dinheiro com todos “de acordo com a necessidade de cada um” (At. 2.44 – 46). Qual a justificativa para dizer que os cristãos atuais são “melhores” do que os primeiros? Por que aqueles pioneiros deveriam vender suas propriedades e repartir com todos, enquanto que os atuais precisariam apenas se preocupar em enriquecer?
            Uma das passagens deveras citadas pelos adeptos da Teologia da Prosperidade com o intuito de afirmar a coadunância com o texto bíblico está em Malaquias: “Trazei o dízimo todo à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e provai-me nisto, diz Jeová dos exércitos, se não vos abrir eu as janelas do céu, e não derramar sobre vós uma bênção até que não haja mais lugar para a recolherdes” (Malaquias 3.10). O texto é bastante apropriado, porquanto traz em seu bojo a idéia da compensação, ou seja, as bênçãos de Deus serão de acordo com a entrega do dízimo. Dessa forma, a arrecadação das instituições tende a ser altas na medida em que os fiéis são estimulados a colaborar para receber algo em troca. No entanto, do ponto de vista teológico, o problema maior aqui reside no fato de ser uma citação do contexto do Velho Testamento. O Livro de Hebreus ensina categoricamente que a Lei (Antigo ou Velho Testamento) foi substituída pelo Novo Testamento (ou Nova Aliança) e que, por isso, as dádivas e sacrifícios oferecidos aos sacerdotes, de acordo com a Lei (Antigo Testamento) “é cópia e sombra das realidades celestes” (Hb. 8.1 – 5). E o mesmo texto acrescenta: “Possuindo apenas a sombra dos bens futuros, e não a expressão própria das realidades, a Lei é totalmente incapaz, apesar dos mesmos sacrifícios sempre repetidos, oferecidos sem fim a cada ano, de levar a perfeição aqueles que deles participam” (Hb. 10.1). Em suma, o que trata da Lei (Antigo Testamento) não serve de parâmetro para quem vive (ou diz viver) dentro da Nova Aliança. Buscar uma referência no Antigo Testamento para justificar uma idéia atual é o mesmo que apoiar o apedrejamento de mulheres consideradas adúlteras só porque consta na Lei mosaica!
            Igrejas superlotadas também não são sinais de benção e muito menos a simples proclamação de que Jesus é Senhor são suficientes para identificar uma igreja como verdadeiramente cristã (no sentido teológico). “Nem todo aquele que me chama “Senhor, Senhor” entrará no Reino do Céu, mas somente aquele que faz a vontade de meu Pai, que está no céu” (Mt. 7.21). E qual é a vontade do Pai? Sobre o final dos tempos, mais uma vez, Jesus afirmou que muitos ficarão surpresos em serem condenados porque deixaram de ajudar as pessoas mais humildes e necessitadas (Mt. 25.31 – 46). Por isso, afirma Jesus, que muitos são chamados, mas poucos escolhidos (Mt. 22.14). Sentar no banco de um templo ou igreja não garante a salvação. Ser chamado, ou seja, ouvir a palavra não é garantia de salvação. A garantia está na prática daquilo que se ouve. A figueira que não dá frutos é inútil.
            Tiago também condena a sede de riqueza que faz com que as pessoas se desviem do objetivo principal que é a reconciliação com Deus. No capítulo 5 de seu livro, Tiago diz que aqueles que viveram deliciosamente sobre a terra, se deleitando com as riquezas, irão, depois, chorar e prantear sobre as misérias que hão de vir (Tg. 5). As riquezas estarão apodrecidas, as vestes comidas de traças e ouro e prata estarão enferrujados dando testemunho contra aqueles que se fascinam pelas riquezas materiais e financeiras (Tg. 5). A mesma mensagem de Cristo que no Sermão da Montanha pediu para que não acumulasse tesouros que seriam corroídos pelo tempo (Mt. 6). É por isso, também, que o Cristo falou da dificuldade de um rico entrar no reino dos céus (Mt. 19.23 – 24). E, ainda, lamentou-se dizendo: “Ai de vós, ricos! Porque já tendes a vossa consolação” (Lc. 6.24).
            Aquele, pois que quiser, continue buscando com ansiedade a riqueza material. Mas saiba que já teve a sua recompensa. Ganhou o mundo todo, mas perdeu a sua alma (Mc. 8.36).


Carlos Carvalho Cavalheiro
04.01.2015.

Sobre a Teologia da Prosperidade (I)



      Dados do Censo do IBGE apontam um substancial crescimento das igrejas cristãs chamadas genericamente de evangélicas. Em dez anos o número de evangélicos no Brasil saltou de pouco mais de 26 milhões de brasileiros para quase 43 milhões, o que representa um aumento de 61,45% (IBGE, 2010). Esses dados foram divulgados em 2012, embora se referissem ao Censo de 2010.
            Curiosamente, no senso comum, quando se fala em “evangélico” a primeira associação que se faz é com o televangelismo, iniciado na década de 1980, e que tem como principal sustentáculo a chamada Teologia da Prosperidade ou Evangelho da Prosperidade (ou ainda, Confissão Positiva, Palavra da Fé, Movimento da Fé, Evangelho da Saúde e da Prosperidade, entre tantos outros). No entanto, os dados do IBGE mostram que dentre as igrejas evangélicas que mais adeptos possuem, as que ocupam os três primeiros lugares não são, a princípio, igrejas fundamentadas nesse modelo de Teologia. O site Evangelização.blog.br aponta a liderança disparada da Igreja Assembléia de Deus que conta com mais de 12 milhões de membros, seguida da Igreja Batista que contabiliza mais de 3 milhões de fiéis e da Congregação Cristã com 2,3 milhões.
            Mas o que é a Teologia da Prosperidade? Segundo a Wikipedia, a Teologia da Prosperidade é uma “doutrina religiosa cristã que defende que a bênção financeira é o desejo de Deus para os cristãos e que a , o discurso positivo e as doações para os ministérios cristãos irão sempre aumentar a riqueza material do fiel”. O mais conhecido – e, talvez, o maior – divulgador dessa doutrina foi Kenneth Erwin Hagin que, segundo consta em suas biografias amplamente divulgadas, teria sido curado de um problema cardíaco quando interpretou a passagem de Marcos 11.23-24 com o sentido de que a fé deveria ser liberada a partir do pronunciamento das palavras, pois o próprio texto assinalava a presença maior do verbo “dizer” o que o verbo “crer”: “Porque em verdade vos digo que qualquer que disser a este monte: Ergue-te e lança-te no mar, e não duvidar em seu coração, mas crer que se fará aquilo que diz, tudo o que disser lhe será feito. Por isso, vos digo que tudo o que pedirdes, orando, crede que o recebereis e tê-lo-eis”. No entanto, as idéias de Hagin sobre a fé liberada ou confissão positiva não eram originais. Essek William Kenyon (1867-1948) foi evangelista de origem metodista que defendia a idéia teológica de que “O que eu confesso, eu possuo”. Em verdade, Essek Kenyon criou um sincretismo entre o pentecostalismo e visões metafísicas e místicas advindas de denominações religiosas que freqüentou como a Ciência Cristã.
            No que se funda a Teologia da Prosperidade? Essa Teologia afirma que os que são verdadeiramente fiéis a Deus devem viver em prosperidade, ou seja, em excelente situação financeira, profissional e de saúde. No Brasil, é comum os adeptos dessa Teologia afirmarem que a prosperidade significa riqueza material. Então, o principal motivo para se tornar cristão é a busca pela riqueza material, a cura de doenças e a libertação dos demônios. A salvação da alma..., bom isso fica para depois. O que aparenta ter importância para os adeptos da Teologia da Libertação é o agora, é o viver neste mundo com riqueza financeira e boa saúde para poder usufruir dos benefícios do dinheiro.
            Sem pretender atacar nenhuma denominação religiosa, o que se pretende com este artigo é debater tais conceitos em comparação com a Teologia Bíblica tradicional. De fato, riqueza em si não é pecado. A Bíblia diz que José de Arimatéia, um dos seguidores de Jesus, era rico (Mt. 27.57-58). No entanto, a busca pela riqueza afasta os homens de Deus e, por isso, pode se converter em pecado (aqui no sentido original da palavra “hamartia” ou “hamartano” que significa “errar o alvo”, ou seja, desviar do objetivo de Deus). Sobre isso Jesus disse no Sermão da Montanha: “Não podeis servir a Deus e ao Dinheiro” (Mt. 6.24). E acrescentou que: “Por isso vos digo: não vos preocupeis com a vossa vida quanto ao que haveis de comer, nem com o vosso corpo quanto ao que haveis de vestir. [...] Buscai, em primeiro lugar, o Reino de Deus e a sua Justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas” (Mt. 6.25, 33). Também disse Jesus que não deveríamos “ajuntar tesouros na terra, onde a traça e o caruncho os corroem e onde os ladrões arrombam e roubam, mas ajuntai para vós tesouros no céu” (Mt. 6.19). No Evangelho de Lucas, o Nazareno aconselha ao rico para que vendesse tudo o que possuía e distribuísse aos pobres, pois assim teria um “tesouro no céu” (Lc. 18.18 -23). A mensagem central do cristianismo é a regeneração do homem, ou seja, a sua salvação e reconciliação com Deus. No Evangelho de Marcos, Jesus pergunta: “Portanto, de que adianta uma pessoa ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?” (Mc. 8.36).
            O que seria a prosperidade, então, se não for a riqueza material? Parece que prosperidade é ter tudo aquilo que é necessário para uma vida digna. Nem mais, nem menos. Jesus enviou seus discípulos em uma comissão, de dois em dois, e aconselhou que não levassem nada. Em ocasião oportuna, perguntou a esses se algo havia lhes faltado, do que responderam que nada faltara. Portanto, estavam atendidos por Deus em suas necessidades (Lc. 22.35). É o mesmo entendimento de quando, no Sermão da Montanha, Jesus disse dos lírios do campo e da inutilidade da preocupação com os bens materiais (Mt. 6). Aqueles que ostentam riquezas materiais, “já receberam a sua recompensa” (Mt. 6.2). Mesmo as curas extraordinárias não são insígnias dos que verdadeiramente são cristãos. Jesus advertiu que no final dos tempos, muitos dirão a Ele: Senhor, não foi em teu nome que profetizamos, expulsamos demônios e fizemos muitos milagres?. E Jesus apenas responderá: “Nunca vos conheci” (Mt. 7.22 – 23).

Carlos Carvalho Cavalheiro – 04.01.2015.

sábado, 18 de abril de 2020

O cristão e a maçonaria



                  "O cristão não deve se filiar à maçonaria porque ela é uma sociedade secreta!"
            Ora, o argumento aqui é falho. O cristianismo também já foi uma espécie de “sociedade secreta”. Nos primórdios do cristianismo, conforme consta no livro de Atos, os cristãos eram perseguidos, presos, mortos, martirizados. Saulo de Tarso, que depois de sua conversão ao cristianismo passou a usar o nome de Paulo, “respirava ameaças de morte contra os discípulos do Senhor” (At 9:1).
            É de se imaginar, portanto, os cuidados que os cristãos deveriam ter para não serem vítimas da perseguição por descuido de sua própria exposição. E a perseguição aos cristãos recrudesce depois, quando ocorre uma campanha promovida pelo império romano, pelo menos a partir do ano 64, data do governo de Nero. Mas essa foi uma perseguição local, não organizada, como, praticamente, todas as que se seguiram, até aproximadamente o ano de 250 d. C., quando se tornou sistemática: “A perseguição organizada e universal em todo o Império ocorreu somente depois do ano 250 d. C., com os imperadores Décio (249 – 251) E Diocleciano (284 – 305), as últimas e mais ferozes, quando os romanos consideravam o cristianismo uma religião perigosa para o Estado e para a estabilidade do governo” (REINKE, 2019, p. 328).
          Talvez seja este o sentido da advertência de Jesus Cristo aos seus discípulos: Mateus 10.21: Um irmão entregará à morte seu irmão, e o pai ao filho, e os filhos se rebelarão contra seus pais e lhes causarão a morte. 22 E, por causa do meu Nome, sereis odiados de todos. Contudo, aquele que permanecer firme até o fim será salvo. 23 Quando, porém, vos perseguirem num lugar, fugi para outro; pois com toda a certeza vos asseguro que não tereis passado por todas as cidades de Israel antes que venha o Filho do homem.
            Benjamin Scott diz que durante as perseguições aos cristãos em Roma, estes se refugiavam em catacumbas, galerias subterrâneas, até aproximadamente o ano de 311 (SCOTT, 2019, p. 66). Isso demonstra que os primeiros cristãos eram cautelosos, o que os levou a criar uma rede de relações e de organização similares a uma “sociedade secreta”.
           
              “Mas os maçons cultuam símbolos!”
            Pois é, da mesma forma, os cristãos primitivos também utilizavam-se de símbolos para se comunicarem sem incorrer no risco de que sua mensagem fosse parar em “mãos erradas”. Atualmente, por exemplo, ainda é comum alguns cristãos utilizarem o “peixe” como símbolo cristão (menos evidente do que a cruz, por exemplo). Mas, se perguntarmos a todos os cristãos, será que sabem o porquê da associação de Jesus com o peixe?
            Provavelmente, muitos dirão que é por conta das diversas relações de Jesus com o peixe, descritas no Novo Testamento. Jesus se acercou de pescadores, como Pedro. Chamou a este apóstolo de “pescador de homens”. Jesus realizou um milagre de multiplicação de peixes, comeu peixe em várias ocasiões, incluindo depois de ressuscitado (Jo 21). No entanto, trata-se de um acróstico, ou seja, uma palavra escrita a partir de iniciais de outras que indicam novo sentido. De acordo com LUND e NELSON (2001, p. 102), “os cristãos da primeira Igreja, como evidenciam as catacumbas da cidade de Roma, empregavam comumente acrósticos nos epitáfios. Um dos símbolos favoritos e secretos de sua fé imutável sob o fogo da perserguição era o desenho de um peixe. A palavra grega equivalente a peixe era ichthus. O alfabeto grego consta de caracteres que nós representamos mediante duas letras. Desta maneira th e ch são letras simples no alfabeto grego. Ao recordar este fato, o peixe simbólico era lido da seguinte maneira: I = Iesous (Jesus), Ch = Christos (Cristo), Th = Theou (de Deus), U = Uios (Filho), S = Soter (Salvador)”.

            Mas é apenas um símbolo usado pelos cristãos...
        Na verdade era um dos diversos símbolos usados pelos cristãos. Por exemplo, a âncora que disfarçava a cruz; a pomba com ramo no bico; túmulo vazio entre tantos outros símbolos.
            Então, quer dizer que o cristão deve se filiar à maçonaria?
          Não é este a sugestão deste texto. Ocorre que para defender ou não determinada posição deve-se melhorar os argumentos. Acontece que qualquer coisa que rivalize com a devoção a Deus sempre foi condenada pela Escritura. Sejam deuses da Antiguidade, seja a riqueza, a opulência, a luxúria ou a filiação a alguma sociedade que seja contrária ao que diz a Palavra de Deus.
            Nesse sentido, fazer parte de uma torcida de futebol é tão nociva quanto pertencer a qualquer sociedade “secreta”, se ambas estão desviando sua atenção para as coisas espirituais.

Carlos Carvalho Cavalheiro
18.04.2020
           


Deus e as autoridades humanas


            Novidade para muitos cristãos: Deus não vota! A afirmação pode parecer heresia, à primeira vista, mas o que quero dizer é que quem escolhe o governante da nação numa democracia é o povo, não Deus.
            “Mas está escrito: ‘Por amor do Senhor, obedeçam às autoridades, seja o mais alto magistrado ou os que, por mando dele, governam e que estão encarregados de reprimir os que praticam o mal e louvar os que fazem o bem. É a vontade de Deus que, praticando o bem, vocês tapem a boca aos homens ignorantes nas suas conversas loucas’ (1Pe 2.13 – 15)”.
            Sim, é verdade. E poderíamos citar tantos outros textos bíblicos em que há a indicação de que a autoridade humana procede de Deus. Mas o que isso significa? Existe uma ciência chamada Hermenêutica, que estabelece os princípios pelos quais devemos interpretar determinados textos ou escrita. No caso da Bíblia, a Hermenêutica desenvolveu técnicas de desvendar o real sentido e significado de cada situação exposta na Bíblia.
            Pois bem, uma das regras da Hermenêutica é que “cada cristão tem o direito e a responsabilidade de investigar e interpretar pessoalmente a Palavra de Deus” (HENRICHSEN, 1997, p. 26). Outra regra básica da hermenêutica é que a Escritura deve ser explicada pela Escritura, ou seja, a Bíblia contém elementos que nos ajudam a interpretar os seus textos (LUND, NELSON, 2001, p. 23).
            Para tanto, não devemos jamais interpretar um trecho isolado, sem perceber a perspectiva completa que a Bíblia nos traz sobre determinado assunto. Por exemplo, se lermos no Antigo Testamento o sistema de sacrifícios animais, mas não tivermos a perspectiva do sacrifício definitivo realizado por Cristo, ainda continuaremos a acreditar que Deus se agrada – e nós precisamos – dos sacrifícios de animais! (Hb. 8 – 10).
            Quando a Bíblia diz que a autoridade procede de Deus significa que nenhum humano detém poder se Ele não permitir. Isso não quer dizer que Deus apoie ou esteja de acordo com os governantes terrenos. E também não quer dizer que devemos seguir cegamente o que tais governantes pedem ou exigem.
            No Antigo Testamento vemos diversas passagens em que verdadeiros homens de Deus se recusaram a aceitar as ordens de autoridades porque eram contrárias às suas crenças e ao que Deus lhes revelava. Daniel é um exemplo. Segundo o capítulo 6.7 de livro que leva o seu nome, “Todos os presidentes do reino, os capitães e príncipes, conselheiros e governadores, concordaram em promulgar um edito real e confirmar a proibição que qualquer que, por espaço de trinta dias, fizer uma petição a qualquer deus, ou a qualquer homem, e não a ti, ó rei, seja lançado na cova dos leões”.
            Ora, Daniel não era idólatra e sabia que Dario era um governante humano. Pois bem, Daniel desobedeceu às ordens reais e Deus provou que ele estava correto! Outro exemplo é Acabe, rei de Israel (que reinava em Samaria) e que foi reprovado por Deus.
Elias, homem de Deus, foi chamado para dizer a Acabe que deveria morrer. Porém, pelo arrependimento dele, Deus o poupou naquele momento. Porém, três anos depois, quando Acabe e o rei de Judá resolveram atacar a Síria, Deus providenciou para que profetas mentissem sobre a previsão de vitória de Acabe. Somente Micaías disse a verdade, de que Deus queria a desgraça de Acabe, como, de fato ocorreu (1 Rs 22.23: “E o Senhor pôs um espírito mentiroso na boca destes seus profetas. O Senhor decretou a sua desgraça”).
            Esse é o sentido do entendimento do texto que diz que toda autoridade procede de Deus. Ou seja, que a autoridade, de fato, pertence a Ele, mas que, mesmo assim, Deus permite que governantes humanos usufruam temporariamente desse poder. Jamais essa passagem deve ser entendida como obediência cega aos governantes porque são provenientes de Deus. Assim fosse, o antigo império romano, pagão, que dominou significativa parte da humanidade, estaria de acordo com os preceitos de Deus! Ou o nazismo alemão, ou as ditaduras cruéis que tivemos.
            Por isso, Pedro, o mesmo que providencialmente disse para obedecermos às autoridades, nos ensina com seu exemplo que “importa mais obedecer a Deus do que aos homens” (Atos 5:29). Mesmo que esses homens se coloquem como mensageiros de Deus. Acabe ouviu 400 supostos mensageiros de Deus e não aceitou a Palavra verdadeira e única que provinha da boca de Micaías.

Carlos Carvalho Cavalheiro
18.04.2020



Pv 29.2 Quando os honestos governam, o povo se alegra; mas, quando os maus dominam, o povo reclama.
4 Quando o governo é justo, o país tem segurança; mas, quando o governo cobra impostos demais, a nação acaba na desgraça.
7 A pessoa correta se interessa pelos direitos dos pobres, porém os maus não se importam com essas coisas.